domingo, 23 de março de 2008

Gostas do avô, pois gostas?

Por volta dos teus dois anos comecei a ser para ti um avô com nome.
- Quem sou eu?
- Avô Jogi.
Não apenas um rosto conhecido, um rosto com nome
- Avô Jogi
e o avô Jogi babado de ternura.
- E quem é esta?
e tu sem hesitar
- Avó São
estendendo os braços para a avó São num pedido irrecusável de colo, de ternura, sempre a avó São, a avó São para tudo
- Diz, minha linda.
Um pouco mais tarde, a árdua conquista das palavras e a descoberta do mundo das emoções foi-te permitindo outras graças.
- A avó?
- Foi lá fora. Não estás aqui bem com o avô?
e tu a dares uma resposta sem responderes
- A avó?
eu a fingir-me agastado, a provocar-te
- Gostas do avô, pois gostas?
e tu a devolveres-me a provocação
- Não
a minha cara numa indignação sorridente
- O quê?
enquanto os meus dedos, verrumando-te a barriguita, te fazem contorcer com cócegas, soltar grandes risadas cristalinas, repetindo a provocação
- Não
à espera de mais cócegas do avô Jogi.

segunda-feira, 17 de março de 2008

Os sinos

Não sei porquê, os sinos parecem despertar em ti um fascínio especial, ficas a ouvi-los
- O sino
com o dedito em riste, como que suspensa do som carregado de mistério e de encanto.
Por esse fascínio (que também tenho), aqui te deixo estas riminhas, modestas como o sino de uma pobre capela no ermo de um monte.
O sino toca
dlim-dlão
e ouve-se ao longe
ladrar um cão.
Ouve-se ao longe
ladrar um cão
e o sino toca
dlim-dlão.

terça-feira, 11 de março de 2008

O baloiço

Um dia, finalmente, passou a haver um baloiço em casa da avó São e do avô Jorge. Um baloiço vermelho, uma espécie de cadeirinha de plástico, com quatro cordas, que o avô suspendeu de uma viga do alpendre. E já não era sem tempo! A partir daí foi um regalo. E como pedias sempre para te empurrar com mais força, pensei em criar uma cadência para entoares enquanto voas. Cadência que decoraste bem depressa e que tu própria passaste a dizer (quando te apetece, claro) com a música do "Lagarto Pintado".

Baloiço vermelho
da Carolina
leva bem alto
esta menina.

Leva bem alto
esta menina
baloiço vermelho
da Carolina.

domingo, 9 de março de 2008

O meu amor pequenino


Correndo pelo jardim
ia e vinha,vinha e ia,
e no seu leve correr
tudo com ela sorria.


Dos seus cabelos ao vento,
ondas de um mar dourado,
nascia tanta alegria
que por um breve momento
o mundo ficou parado.

sábado, 8 de março de 2008

Arca do tesouro

Para a Carolina, o meu amor pequenino
O tesouro, evidentemente, és tu. Quanto à arca, é apenas o sítio onde tenciono guardar algumas pequenas coisas que for escrevendo para ti ou sobre ti. Arca do tesouro, portanto, não pelo valor das coisas que lá ficarão guardadas, mas por ser tua.