quinta-feira, 28 de julho de 2011

Feliz Dia dos Avós

A prenda que a Carolina nos deu no Dia dos Avós: este desenho tão lindo, tão tocante...

E por trás escreveu ainda: "Brincam muito comigo. E fazem jantares bons. Deixam fazer uma casa de cartão e também me deixam ir para o computador, e também me deixam ir com eles ao vizinho do lado ver os animais."





domingo, 10 de julho de 2011

Multa





Depois de sair da banheira, e enquanto me ocupava dos últimos arranjos, a Carolina pôs-se à porta do quarto de banho a observar-me. Sequei o quase nada que a calvície se permitiu deixar-me, pus um pouco de creme desodorizante e, por fim, na cara e no pescoço, um creme dito anti-rugas (como as ilusões se agarram a nós...ou nós nos agarramos a elas). Pouco depois, quando me preparava para tomar o pequeno-almoço, ela veio ter comigo e entregou-me uma pequena folha de papel.

- É uma multa - informou.

- Uma multa?! Porquê?

- Lê o papel.

Tentei decifrar, mas não consegui. Saiu-me apenas uma coisa disparatada:

- Não pagou a portagem...

- Não é isso...

Tirou-me o papelito e leu:

- Não se pode pôr dois cremes.

Lembrei-me então de que ela me tinha visto pôr dois cremes na casa de banho.

- Só se pode pôr um creme...

Resignei-me.

- E quanto é a multa?

- Vinte.

- Vinte euros ou vinte cêntimos?

- Vinte cêntimos.

Suspirei de alívio e, perante a sua benevolência policial, mostrei o meu reconhecimento e paguei-lhe três vezes mais.

Enquanto ela guardava as moedas no mealheiro, pus-me a ler outra vez o papelito. Como pude ser tão obtuso? Claro que estava lá escrito o que ela me tinha lido. O avô é que já está a desaprender de ler.

A Carolina vai em Setembro para a escola primária, mas já se vai ocupando com o mistério das letras.




domingo, 7 de novembro de 2010

O avô quer ver logo as prendas!

A prenda que eu dei ao avô
Sexta-feira. Como de costume, o avô e a avó vieram buscar-me à escola. E ao Tiago também. Quando chegámos ao pé dos cabides onde a minha bata e a minha mochila ficam penduradas, disse logo ao avô:
- Não podes olhar!
- Porquê?
- Porque tenho aqui uma prenda para ti, mas só podes ver amanhã.
- Não posso ao menos espreitar um bocadinho?
- Não, só amanhã.
O avô lá se voltou de costas e eu guardei a prenda dentro de uma pastinha de plástico. Depois fomos embora. Quer dizer, fomos ao café ali em frente comprar guloseimas. Agora já não sou só eu que quero. O Tiago também quer. Põe-se logo a dizer:
- Qué gomas!
O avô fez-se desentendido e voltou à dele:
- Mas então porque é que tens aí uma prenda?
- Porque amanhã fazes anos. Eu já sei...
Dormi em casa do avô e da avó. Eu gosto muito, porque a avó dorme comigo e é sempre uma noite muito boa.
No sábado de manhã, eu e a avó estivemos a fazer um bolo para a festa de anos do avô. Eu quis que fosse um bolo de chocolate. Do que eu gostei mais foi de o enfeitar no fim com umas flores e umas bolinhas prateadas, que tive de pôr com muito cuidado. E ficou muito lindo! À tarde, quis ser eu a pôr a mesa, que também ficou muito gira.
À noite vieram o papá, a mamã e o Tiago. No fim do jantar, acendemos as velas do bolo e cantámos os parabéns ao avô. Só depois é que ele recebeu as prendas e fui eu que lhas dei todas. O avô disse que a mais bonita era a minha e repenicou-me um grande beijo na cara. Acho que ele gostou mesmo, porque estava com uma cara feliz.

quinta-feira, 4 de novembro de 2010

Estou tão contente!

Hoje é quinta-feira e eu tenho ballet. Este ano é às segundas e quintas e, como é preciso sair mais cedo, são sempre a avó e o avô que me vêm buscar (e ao Tiago também). Depois o papá e a mamã vão buscar-nos ao pavilhão no fim do ballet.
Mas hoje tive uma surpresa, porque, quando íamos a sair da escola, a avó disse-me:
- Hoje, tu e o Tiago vêm jantar connosco.
Eu fiquei admirada.
- Porquê?
- Porque a mamã teve uma reunião em Coimbra e vem mais tarde.
Acho que até os olhos me brilharam de alegria, porque eu gosto muito de comer em casa da avó e do avô. É muito bom!
Quando já íamos no carro, eu perguntei ao Tiago:
- Estou tão contente por irmos jantar a casa da avó e do avô! Tu também estás, Tiago?
Ele não respondeu, acho que ainda não percebe muito bem estas coisas. Mas também gosta muito de ir para lá.
A avó e o avô também não disseram nada mas, pela cara deles, via-se bem que estavam contentes.

sábado, 7 de novembro de 2009

Os anos do avô


Ontem o avô fez anos. E como era sexta-feira, ele e a avó São vieram buscar-me à escolinha.
Isto dos dias da semana ainda me faz um bocado de confusão. Mas sexta-feira eu sei quando é: é quando o avô Jorge e a avó São me vêm buscar e vamos direitinhos para casa deles.
Desta vez, quando íamos a caminho de casa, a avó perguntou-me:
- Sabes quem faz anos hoje?
Eu sabia, mas tinha-me esquecido. Mas quando a avó me fez a pergunta eu lembrei-me logo:
- É o avô.
Eu acho que o avô ficou contente por eu me ter lembrado dos anos dele, porque os olhos do avô sorriram um bocadinho.
Ele só disse:
- Pois é, o avô faz anos hoje. Sessenta e cinco.
- Eu tenho uma surpresa para ti, avô.
- Ai sim? Onde está?
- Está na minha mochila.
- E o que é?
O avô já estava a arder de curiosidade, mas eu sabia muito bem que ainda era cedo para revelar o segredo.
- Ó avô, não vês que ainda não te posso dizer o que é?
A avó ajudou:
- Só logo, depois de cantarmos os parabéns e de o avô apagar as velas do bolo. Não é, Carolina?
- É.
O avô pareceu conformar-se.
- Então está bem. Dás-me a tua surpresa logo, no fim do jantar.
E assim foi. A avó acendeu as velas e uma coisa que largava muitas estrelinhas. Depois de o avô apagar as velas (eu também soprei!), fui então buscar a minha prenda. O avô desembrulhou-a: era uma moldura com um desenho que eu fiz. Achei melhor explicar:
- Aqui no meio sou eu; deste lado é a avó, e do outro lado é o avô com o Tiaguinho ao colo.
O avô puxou-me para ele e deu-me um beijo muito repenicado. Acho que ele gostou muito da minha prenda, porque, ainda antes de nos irmos todos deitar, foi pôr o desenho no escritório, numa prateleira da estante em frente da secretária, virado para o sítio onde ele costuma estar sentado.

segunda-feira, 27 de julho de 2009

Dia de apanhar amoras

Ainda não percebo muito bem essa coisa dos dias da semana,
- Pai, hoje já é sexta-feira?
- Não, hoje ainda só é terça-feira.
mas há um que eu já sei muito bem, a sexta-feira.
- Então é amanhã?
- Também não. Amanhã é quarta, depois quinta e só depois é que é sexta-feira.
Pois, a sexta-feira é que eu já sei muito bem, porque é o dia de ir dormir a casa da avó São e do avô Jorge. Mas ainda faltam tantos dias... Eu gosto muito do papá e da mamã, e do Tiaguinho. Quando o pai e a mãe nos vão buscar à escolinha, ao fim da tarde, eu dou sempre muitos beijos ao Tiago, faço-lhe muitas palhaçadas, e o mano gosta, porque ele ri-se e acho que isso quer dizer que fica contente. Quando estou um dia sem o ver sinto logo saudades do meu pequenino. É por isso que lhe dou muitos beijos.
- Pai, hoje é sexta-feira?
- É.
- Vou dormir a casa do avô e da avó?
- Talvez. Eu vou telefonar-lhes para saber se podem vir buscar-te logo.
Conversa fiada do papá. Claro que podem! Eu até acho que a avó e o avô também passam a semana a contar os dias, mortos que chegue a sexta-feira. O avô e a avó até costumam dizer, quando me vão buscar:
- Já estávamos com muitas saudades da nossa pequenina.
Quando chega a sexta-feira, eu também já tenho saudades da avó e do avô, quer dizer, já me apetece muito passar um dia com eles.
A caminho de casa, o avô anuncia:
- Amanhã, se estiver bom tempo, vamos de manhã à praia e de tarde vamos apanhar amoras. Pode ser?
- Siiiiiiiiiiim!
E assim foi. De manhã fomos até à Barra. A baixa-mar deixara uma grande faixa de areal com não mais que um palmo de água. Só o ventinho fresco, embora manso, destoava ali.
- Avó, está a bandeira verde!
- E o que é que isso quer dizer?
- Podemos molhar os pés e tomar banho.
- Mas é melhor esperar mais um bocado, ainda está frio.
Esperar, avó? Nem penses! Eu até estou com calor... Dou a mão ao avô
- Anda, avô
puxo-o e lá vamos nós. A água está clarinha, às vezes há uns poços pequeninos onde dá para me sentar e molhar o rabo. Também gosto de me estender e de molhar o peito, a barriga e as pernas.
Depois corre pela areia fora, vai ter com a avó, dois minutos sem estar ao pé da avó já é uma eternidade. Tenta puxá-la para o mar
- Anda, avó
mas só depois de muito instada é que a avó se resolve a ir.
- Ui, que água tão fria! - arrepia-se a avó.
Por fim ganha coragem, avançam um pouco mais. As ondas não chegam sequer aos joelhos da Carolina, mas, mesmo assim, ela acha que já é demais
- Avó, não gosto de água profunda
e quer vir mais para trás.
O avô fica a matutar naquilo, satisfeito pelo cuidado da neta e mais ainda pela palavra que usou: profunda. Água profunda. Sim, senhor, não está nada mal.
À tarde, depois do almoço, fomos então às amoras para os campos de Sarrazola. São dez minutos, de carro. Chapéus, garrafa de água e dois baldinhos de praia para recolher as amoras. O carro fica à sombra de uns eucaliptos altos. De um dos lados do caminho, uma vala de água escura e, do outro lado, um silvado contínuo a bordejá-lo. No caminho de terra batida há cascalho com fartura, que a Carolina logo descobre.
Tantas pedrinhas boas para atirar à água!
- Avó, posso atirar pedras para a água?
- Podes.
É tão engraçado ouvir o ploc que as pedras fazem na água
- Ainda vais acertar na cabeça de algum peixe.
Ela fica a olhar para a avó, meia incrédula, mas deixa logo de pensar nisso.
e ver as rodinhas que ficam na água depois da pedra mergulhar. Também é bom quando consigo atirar uma pedra mais longe
- Boa - diz a avó - essa foi muito longe.
- Eu já sou grande, já tenho muita força, pois é, avó?
A Carolina ainda apanha algumas amoras
- Hum... que boas!
mas logo volta para as pedras. Depois faz corridas com a avó, e ganha sempre.
- Olha, avô, eu corro mais que a avó!
- Pois corres.
E corre mesmo. Ao fim de três ou quatro corridas a avó já se queixa de um joelho.
- Avô, dá-me o balde das amoras.
Tira umas poucas e mete-as à boca.
- São mesmo boas!
- Estou bem arranjado com estas ajudantes.
Parecia que o avô estava zangado, mas não estava, porque os olhos dele riam-se.
O avô encheu o meu balde de praia até cima, com amoras pretinhas. Quando chegámos ao carro, sentei-me e fartei-me de comer. A avó até disse que eu ainda apanhava uma diarreia.
Quando se fartou de comer, quis passar para o banco da frente e sentou-se a conduzir.
É bom conduzir, mesmo só a brincar. E buzinar, então? E pôr os piscas todos a piscar? Passado um bocado o avô disse que eram horas de ir embora.
E ela, muito lampeira:
- Ó avô, vai só um bocadinho até ali adiante.
O avô riu-se e foi, e eu ainda tive tempo para buzinar mais duas vezes. Depois o avô abriu a porta do carro e fez-me cócegas na barriga, e eu tive que fugir para o banco de trás. À noite, o pai e a mãe vieram jantar connosco e à sobremesa houve amoras. E o avô ainda encheu uma caixinha delas para eu levar para casa.

sábado, 4 de julho de 2009

Hoje foi um dia bom

Este sábado foi dia de eu ficar com a avó e o avô. Todo o dia!
Eles vieram buscar-me à escolinha na sexta-feira à tarde. É quase sempre assim, todas as semanas. Mal os vejo aparecer à porta da sala, corro para a avó. Que bom, chegaram!
Traz o sol nos olhos, de contentamento. Parece que passa a semana à espera da sexta-feira.
A avó deixa-me dormir com ela e isso é tão bom! Na minha casa tenho de me deitar sozinha e não gosto nada disso. Não gosto de estar sozinha.
- Que dia é hoje? - pergunto, ao sairmos da escolinha.
- É sexta-feira.
- Sabias que éramos nós que te vínhamos buscar?
- Sim, o papá disse.
- E onde vais dormir?
O sorriso que faz responde ainda antes das palavras.
- Em casa do avô e da avó.
E lá vai a saltitar ao nosso lado.
Depois, há outro ritual a cumprir: ir ao café em frente comprar gomas. Devemos ser já conhecidos como os fregueses das gomas.
Mas não pensem que podemos ir já para casa.
- Avó, quero ir ao parque andar no baloiço.
E lá vamos ao parque infantil que fica nas traseiras da igreja.
Por fim, o avô e a avó põem-se a inventar grandes razões para conseguirem arrancar-me de lá: uma nuvem negra que dizem que traz muita chuva; um vento frio que me pode constipar; o jantar que é preciso ir fazer.
Neste sábado, fiquei o dia todo com a avó e o avô, e tive ainda um prémio especial: dormir também a noite de sábado para domingo em casa deles, porque o papá e a mamã foram a um casamento e devem chegar tarde. E este sábado não foi um dia bom só por isso. Ao fim da manhã fomos a uma terra que o avô diz que se chama Fontão, comprar pãozinho feito num forno que às vezes deita muito fumo. O pão sai muito quentinho e é tão bom comê-lo mesmo sem nada! Depois fomos fazer um almoço de piquenique, num parque com muita relva, à beirinha do rio, com mesas e bancos, muitas sombras gostosas e um ventinho fresco de regalar.
À tarde, depois de uma passagem pela terapeuta da fala, fomos ainda à Costa Nova. Estava prometido, desde que o tempo estivesse de feição. E esteve.
- Agora vamos então à praia - disse a avó.
- E temos de ir também ao mercado da Costa Nova comprar peixe para o jantar - lembrou o avô.
- Mas primeiro vamos à praia, está bem?
Entenda-se: nada de confusões quanto às prioridades. A praia, sim; agora isso do peixe...
Às cinco e meia da tarde era já um sol benigno; o vento apenas um ventinho de criança; e a água do mar, que só de pôr a ponta do pé costuma cobrir o corpo todo de pele de galinha, estava de estalo, morna que era um gosto.
Até a avó, que ainda antes de chegar junto da água já vai toda arrepiada, aventurou o dedo grande do pé e disse que sim, que a água estava boa. Mas quem me deu a mão para tomar banho foi o avô, que não é tão friorento e é capaz de se molhar até aos joelhos. E houve ainda baldes de água (coitado do avô, que teve de descer e subir o areal não sei quantas vezes para ir enchê-lo), castelos de areia, túneis, baleias, peixes e camarões feitos com as forminhas de plástico.
Depois, quando o sol começou a ficar friorento, fomos ao mercado. Quer dizer, o avô foi ao mercado, porque eu estava cansada e com sono e quis ficar no carro. Quando voltou, o avô trazia um saco com uns peixinhos pequeninos, que disse que eram carapauzinhos da areia, para comermos ao jantar. Eu acho que já comi disso e são muito bons, até se podem comer as espinhas e tudo. E trazia também um saco com umas cerejas muito grandes, muito pretinhas. Comi logo uma mão cheia delas e o avô disse que eu fiquei com uns bigodes vermelhos.
Pusemo-nos por fim a caminho de casa. E a Carolina, antes de adormecer na sua cadeirinha, disse ainda, como se falasse só consigo mesma, resumindo o dia:
- Hoje foi um dia bom.
E ainda antes de chegarmos à ponte da Barra já tinha fechado os olhos.