sábado, 4 de julho de 2009

Hoje foi um dia bom

Este sábado foi dia de eu ficar com a avó e o avô. Todo o dia!
Eles vieram buscar-me à escolinha na sexta-feira à tarde. É quase sempre assim, todas as semanas. Mal os vejo aparecer à porta da sala, corro para a avó. Que bom, chegaram!
Traz o sol nos olhos, de contentamento. Parece que passa a semana à espera da sexta-feira.
A avó deixa-me dormir com ela e isso é tão bom! Na minha casa tenho de me deitar sozinha e não gosto nada disso. Não gosto de estar sozinha.
- Que dia é hoje? - pergunto, ao sairmos da escolinha.
- É sexta-feira.
- Sabias que éramos nós que te vínhamos buscar?
- Sim, o papá disse.
- E onde vais dormir?
O sorriso que faz responde ainda antes das palavras.
- Em casa do avô e da avó.
E lá vai a saltitar ao nosso lado.
Depois, há outro ritual a cumprir: ir ao café em frente comprar gomas. Devemos ser já conhecidos como os fregueses das gomas.
Mas não pensem que podemos ir já para casa.
- Avó, quero ir ao parque andar no baloiço.
E lá vamos ao parque infantil que fica nas traseiras da igreja.
Por fim, o avô e a avó põem-se a inventar grandes razões para conseguirem arrancar-me de lá: uma nuvem negra que dizem que traz muita chuva; um vento frio que me pode constipar; o jantar que é preciso ir fazer.
Neste sábado, fiquei o dia todo com a avó e o avô, e tive ainda um prémio especial: dormir também a noite de sábado para domingo em casa deles, porque o papá e a mamã foram a um casamento e devem chegar tarde. E este sábado não foi um dia bom só por isso. Ao fim da manhã fomos a uma terra que o avô diz que se chama Fontão, comprar pãozinho feito num forno que às vezes deita muito fumo. O pão sai muito quentinho e é tão bom comê-lo mesmo sem nada! Depois fomos fazer um almoço de piquenique, num parque com muita relva, à beirinha do rio, com mesas e bancos, muitas sombras gostosas e um ventinho fresco de regalar.
À tarde, depois de uma passagem pela terapeuta da fala, fomos ainda à Costa Nova. Estava prometido, desde que o tempo estivesse de feição. E esteve.
- Agora vamos então à praia - disse a avó.
- E temos de ir também ao mercado da Costa Nova comprar peixe para o jantar - lembrou o avô.
- Mas primeiro vamos à praia, está bem?
Entenda-se: nada de confusões quanto às prioridades. A praia, sim; agora isso do peixe...
Às cinco e meia da tarde era já um sol benigno; o vento apenas um ventinho de criança; e a água do mar, que só de pôr a ponta do pé costuma cobrir o corpo todo de pele de galinha, estava de estalo, morna que era um gosto.
Até a avó, que ainda antes de chegar junto da água já vai toda arrepiada, aventurou o dedo grande do pé e disse que sim, que a água estava boa. Mas quem me deu a mão para tomar banho foi o avô, que não é tão friorento e é capaz de se molhar até aos joelhos. E houve ainda baldes de água (coitado do avô, que teve de descer e subir o areal não sei quantas vezes para ir enchê-lo), castelos de areia, túneis, baleias, peixes e camarões feitos com as forminhas de plástico.
Depois, quando o sol começou a ficar friorento, fomos ao mercado. Quer dizer, o avô foi ao mercado, porque eu estava cansada e com sono e quis ficar no carro. Quando voltou, o avô trazia um saco com uns peixinhos pequeninos, que disse que eram carapauzinhos da areia, para comermos ao jantar. Eu acho que já comi disso e são muito bons, até se podem comer as espinhas e tudo. E trazia também um saco com umas cerejas muito grandes, muito pretinhas. Comi logo uma mão cheia delas e o avô disse que eu fiquei com uns bigodes vermelhos.
Pusemo-nos por fim a caminho de casa. E a Carolina, antes de adormecer na sua cadeirinha, disse ainda, como se falasse só consigo mesma, resumindo o dia:
- Hoje foi um dia bom.
E ainda antes de chegarmos à ponte da Barra já tinha fechado os olhos.

1 comentário:

Daniel, Simone e Flávio Pernambuco disse...

Adoro ler estas hitórias de um avô super coruja, uma vez que sou uma mãe super-hiper coruja.