domingo, 29 de março de 2009

Vêm aí os quatro anos



Os quatro anos estão perto.
- Quantos anos vais fazer, CarolinaMostra quatro dedos da mão, bem abertos, com o polegar recolhido.
- Quatro.
E muito senhora de si:
- Eu já sou grande!
A pressa que ela tem de ser grande.
Eu quero ser grande, porque afinal os grandes é que decidem tudo: quando são horas de tomar banho, de comer, se tenho de vestir uma camisola mesmo que eu esteja com calor, se se pode ou não comprar o brinquedo que eu quero, se posso ficar um bocadinho no parque infantil ou comer gomas ou pipocas. Ser grande tem muitas vantagens, e isso eu já percebi.
Ainda faltava mais de um mês e já a Carolina ia dizendo à avó e ao avô as prendas que queria ter nos anos: isto e aquilo e aqueloutro. Pedia muitas, era mais seguro. Sempre haveria de ter algumas.
Se pudesse ser, eu queria ter prendas todos os dias. Acho muito aborrecido que só queiram dar-me prendas pelo Natal e quando faço anos.
Pega nos embrulhos com uma excitação tão feliz que nos faz apetecer dar-lhe prendas sempre que está connosco. Às vezes, quando a vamos buscar à escolinha, ela lá se põe a tocar-nos a corda sensível.
- Avó, quero um brinquedo.
Eu acho que a avó não me sabe dizer que não e acaba quase sempre por me fazer as vontades. Eu também tenho de fazer algumas vontades da avó, mas às vezes demoro um bocadinho. O avô, coitado, quer mostrar que nem sempre se pode fazer o que eu quero.
- Não se pode ter brinquedos novos todos os dias.
Mas só finge que resiste. Por baixo do ar sério, vê-se mesmo que se está a derreter todo.
- Só um, assim pequenino.
E mostra-nos os dois dedos indicadores apenas um nadinha afastados um do outro. Pequenino mesmo.
Mas agora são os meus anos, não há desculpas.
- Quero uma Winx.
- Já tens duas Winx.
- Mas a Stella ainda não tenho.
Fica registado: a Stella.
A avó ainda ajuda à missa:
- E que mais?
- Quero um livro da Camila.
- Está bem.
- E um DVD do Rato Mickey. E...
- E mais nada? - diz o avô.
Acho que o avô não está a falar a sério. Ainda quer que eu peça mais coisas? Ele deve querer dizer é que já chega.
Já estou a vê-la: quando o dia dos anos chegar, vai mergulhar no saco das prendas como se estivesse a entrar na caverna do Ali Babá.

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